A manhã de quinta-feira começou com o Brasil estarrecido. Incrédulos por tamanha barbárie. Começávamos a nos perguntar o que motivou um homem a interromper tantas vidas precoces, tantos sonhos ainda por serem traçados. Parece roteiro de filme de terror, mais é tudo real. Tudo muito mais aterrorizante. O pânico, o medo, a dor e o sentimento de impotência tomaram conta de todos. Foram 12 mortos, e 190 milhões de brasileiros feridos.
É comum em qualquer tragédia desse porte surgirem várias teorias, hipóteses que simplesmente brotam do chão. Medidas que serão tomadas a partir daquele momento, soluções mágicas que aparecem, e assim vai. É preciso criar na sociedade o bom senso. Esperar que tragédias como a que aconteceu em Realengo sejam necessárias pra dar um empurrão em projetos mofados, ou até mesmo cria-los em última hora, é extremamente grave (eufemismo pra incompetência).
A insegurança pública é, e sempre foi, um caso gravíssimo no Brasil. As péssimas condições de ensino e qualidade na educação também são. A soma desses dois pilares sustenta uma sociedade próspera e com igualdade, mais quando nem uma e nem outra funcionam, ou as duas se confundem no imaginário popular, o resultado não poderia ser outro.
Mesmo que tardia, começam as discussões sobre a discriminação dentro das salas de aula, a intimidação que geram os chamados “bullyings” que está presente em todas as escolas do país. Mais e depois?
Passada a espetacularização da morte, das imagens exclusivas e dos detalhes mais horrendos da tragédia, o que vai acontecer? Vai ter melhores condições de ensino daqui por diante? Melhor preparo dos profissionais da educação? Mais segurança na porta da escola? O que?
No mesmo Rio de Janeiro, outros fatos de bastante repercussão, simplesmente saíram da lembrança de muitos (até mais precocemente do que se esperava). Depois dos deslizamentos de terra causados pela chuva forte no estado (leia-se apenas as mais notórias: Morro do Bumba e a da Região Serrana), houve alguma mudança significativa na vida das pessoas afetadas diretamente, a não ser a perca de familiares e da dignidade que se esvaiu junto com a lama? Na retomada no Complexo do Alemão em novembro, houve mais policiamento, e consequentemente, aumento na segurança pública no estado? Quantas favelas ainda existem sob a tutela de traficantes, onde o poder paralelo zomba das leis? Demorou anos para, finalmente, uma ação concreta de retomada da segurança nesses locais. Vai demorar mais outros tantos para uma nova?
Questões que no imaginário popular, da mídia e do poder público já saiu de cena. Só mais um capítulo desse filme, onde nós podemos virar os protagonistas. A qualquer momento.